domingo, 10 de março de 2013

Angu com carne seca picada: culinária no blog do chico


A ideia de escrever sobre comida surgiu dias atrás num almoço com amigos e me foi sugerida pelo Rogério Santos, geólogo e entusiasta deste blog. A conversa começou quando decidíamos aonde ir comer. Sugeri um restaurante árabe, que serve além deste tipo de prato, comida mineira, feijoada entre outras. Disse que gostava daquele tempero e que, além disso, era barato. O Rogério é um cara gozador que adora piadas e que sempre atenta para coisas inusitadas como restaurante árabe que serve linguiça fina, torresmo e couve mineira e que tem como a mais saborosa iguaria um simples e delicioso pastel de carne. Bom, nem adiantou dizer a ele que chamávamos o restaurante de árabe, porque o seu forte é a comida árabe e não pela exclusividade dessa mesa. 

Quando falava de como era o gosto caseiro da comida de lá, lembrei-me de alguns pratos que minha mãe fazia e que eram simples pela falta de grana, mas que se tornavam deliciosos por sua competência na cozinha e também por sua inventividade. Foi então que meu amigo, depois que descrevi um desses, sugeriu que eu escrevesse as receitas no Blog do Chico. Achei uma ótima ideia. Apesar da brincadeira, aqui estou escrevendo sobre comida. 

Lá vai a receita: quando era criança, minha mãe fazia muito angu (ou polenta, como quiserem), por ser barato e por ser nutritivo e gostoso. D. Iolanda tinha a virtude da simplicidade na cozinha. Acredito que por isso conseguia fazer de um simples ovo frito ou de um refogado o prato principal, que vinha sempre embelezando o tradicional feijão-com-arroz. 

Em uma panela com água e um pouco de óleo de soja, cozinhava uma quantidade de farinha de milho (fubá). Mexia o fubá, desde a água fria até que ela esquentasse e a massa fosse se formando. Como ela fazia muitas vezes, o cheiro do angu era marcante e nós gostávamos porque ela fazia um angu mais consistente e não tão mole como é do gosto de muitos (como o angu à baiana). Como para obter mais consistência, o tempo era maior, o cozimento formava uma casca ao redor e no fundo da panela, que ficava um pouco queimada ou, às vezes, muito queimada (como minha mãe nunca queimou comida, “sapecava”, dizia ela). Essa casca ou raspa era disputada quase às tapas. Quando o angu começava a engrossar, ela adicionava algumas pitadas de sal. Não muito. Mamãe não gostava de salgar muito. 

Angu pronto, vamos para o seu acompanhamento, a carne seca. Bem, a carne seca daquela época é um capítulo à parte de tão diferente do que vemos hoje em dia nos mercados. Estou falando de uma época quando ainda se achava e se comprava, entre outros, manteiga em lata, vendida a varejo, “embrulhada” em papel-manteiga e café moído na hora, que levávamos para casa em sacos de papel pardo, quentinhos e cheirosos. 

A carne seca, sempre bem escolhida por meu pai (sim, era sempre ele quem escolhia a carne e outros tantos alimentos que comprava), tinha uma consistência firme. Era bem seca mesmo e também salgada. Minha mãe picava a carne em pequenos pedaços de mais ou menos dois centímetros quadrado, bem finos. Não preciso dizer que comíamos muitas vezes estes pedaços enquanto ela ainda os picava. 

Numa panela pequena punha um pouco de alho, sal e óleo. Mexia até que o alho dourasse um pouco. Então, adicionava a cebola picada e logo após a carne seca e refogava tudo. Quando a carne já estava devidamente refogada, completava com o tomate picado em cubos (sem sementes, pois não gostávamos) para que ele mantivesse um pouco de sua consistência. Pronto!

O refogado era posto sobre o angu, que em geral, era servido somente com arroz e feijão ou o que mais houvesse pra complementar. 



- Um dia, quando morava sozinho, cismei de fazer um angu. Como havia muito tempo que não fazia este prato, pus o fubá na água fervendo e empolou todo...

8 comentários:

  1. Assis,

    Adorei o texto. Como sempre, é um tipo de escrita que aguça a leitura até o final. Este tema muito me agrada. Adoro angu. E com ceteza foi um dos pratos mais saboreados em minha infância.
    Já estou aguardando a próxima receita.....rsrs

    Grande bj!

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    1. Valeu, Eliana!

      Obrigado pela participação e até o próximo prato!

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  2. Bom dia maninho ! Nossa quantas saudades ... que vida boa nós tivemos , graças a Deus e graças aos nossos pais . Amei o texto .Mas acho que você já sabia que eu iria adorar né?
    Beijos, Rosana.

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    1. Sabia sim, Rosana.

      Eu acho que escrever sobre essas histórias é o mínimo que se pode fazer em retribuição aos nossos pais e a criação que eles nos deram.

      Bjs.

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  3. Assis,
    Muito legal seu texto, como sempre, embora lamentavelmente eu não goste de angu (tentei gostar, mas não eu). Gosto de carne seca...mais ou menos, vá lá.
    O seu artigo, sim, este é de deliciosa leitura.
    Por fim, observo que tenho um homônimo entre seus leitores.
    Abs
    Rogério Santos

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  4. É verdade, Rogerio. Como você, o seu xará é gente finíssima. Trabalha na Petrobras e é uma figura rara. Assim que te reencontrei por aqui no face e que vi seu sobrenome, lembrei logo do Rogerio da BR. Como disse, ele curte muito o blog, apesar de nunca ter feito um comentário. Insisto, mas ele não faz. Porém, sempre que nos falamos ele comenta a respeito.

    Sobre essa coisa de comida é assim mesmo. O gosto é uma coisa bem particular e passa às vezes por algumas vivências que nos fazem gostar ou não de um prato. É normal. Ainda bem que pela a história e pelo texto você se agradou. Aqui, isso é o mais importante.

    Abração.

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  5. Lembro também do paio envasado em lata embebido na banha de porco. Não se tem mais este paio nem o angú da Iolanda.

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  6. É verdade, Fred.

    Coisa boa que remete-nos a outros tempos que não voltam mais.
    A manteiga no papel de manteiga e o café moído na hora que encontrávamos em qualquer padaria ou boteco da esquina, os quais citei no texto. São coisas da antiga como diz Ney Lopes que lembra tb de goiabada cascão em caixa. Obrigado por citar o angu de minha mãe neste roll. Abraço e volte sempre!

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